Os EUA estão perdendo o interesse dos investidores globais?

Até agora, em 2025, surgiu uma tendência preocupante entre os investidores internacionais: uma venda maciça de ações dos EUA, agora conhecida como o fenômeno “Sell America”. Essa onda de desinvestimento estrangeiro está criando um novo clima de incerteza econômica e geopolítica e levanta a questão: Os Estados Unidos estão perdendo seu apelo como um porto seguro financeiro?
O que está acontecendo? Saídas de capital estrangeiro chegam a US$ 63 bilhões
Desde março de 2025, os investidores estrangeiros venderam aproximadamente US$ 63 bilhões em ações dos EUA, de acordo com um relatório recente do Goldman Sachs. Isso marca uma das maiores liquidações estrangeiras na história recente dos EUA, coincidindo com um momento em que os investidores internacionais detinham um recorde de 18% do mercado de ações dos EUA no início do ano.
As instituições financeiras relataram uma redução significativa na exposição ao mercado dos EUA, principalmente entre os clientes institucionais da Ásia e da Europa.
O que está alimentando o problema? Tarifas, Política e Medo
Saídas de capital dessa magnitude raramente são acidentais. Vários fatores importantes estão levando os investidores a buscar oportunidades fora dos Estados Unidos:
- Tarifas e protecionismo: O ressurgimento de tarifas agressivas durante o segundo mandato de Trump, visando especialmente a China, a Europa e o México, reacendeu as tensões comerciais globais. Embora Trump tenha sugerido uma postura mais flexível no final de abril, os danos à confiança dos investidores já foram causados.
- Incerteza econômica interna: O déficit comercial atingiu níveis alarmantes, e os temores crescentes de uma possível recessão, juntamente com a pressão sobre o Federal Reserve, estão diminuindo a confiança na economia dos EUA. O Presidente Trump criticou publicamente o Presidente do Fed, Jerome Powell, por não reduzir as taxas de juros com rapidez suficiente.
- Instabilidade política: As intervenções diretas da Casa Branca nas decisões do Fed, as mudanças abruptas de política e a falta de uma estratégia fiscal clara criaram uma atmosfera de volatilidade e imprevisibilidade.
Para onde está indo o capital?
Com o declínio da confiança nos EUA, os recursos estão sendo depositados em mercados considerados mais estáveis ou cooperativos:
- Japão: Com US$ 67,5 bilhões em fluxos de entrada de capital estrangeiro em títulos e ações, o Japão se tornou o principal destino do capital em 2025.
- Índia e Brasil: Os mercados emergentes estão ganhando atenção graças às fortes previsões de crescimento e às políticas fiscais mais consistentes.
- Títulos Europeus e o Franco Suíço: O retorno da “fuga para a segurança” aumentou a demanda por ativos tradicionais de refúgio, como os títulos alemães e o franco suíço.
O impacto nos mercados financeiros dos EUA
Essa fuga de capitais já está sendo sentida em vários indicadores importantes:
- Índice S&P 500: Queda de 6,3% desde março, com os setores de tecnologia e financeiro sendo os mais atingidos.
- Índice do Dólar Americano (DXY): Apresentou uma tendência de lateral para baixa, refletindo uma confiança internacional mais fraca no dólar.
- Índice de Volatilidade (VIX): Aumentou 18% em abril, um sinal claro de ansiedade institucional em meio a mudanças estruturais na política dos EUA.
De certa forma, as decisões atuais estão corroendo o papel dos EUA como um pilar global de confiança financeira. A recuperação desse status pode levar uma geração inteira. Embora as recentes pausas nas tarifas tenham desencadeado altas recuperações nos principais índices (+10% em um dia - S&P 500 e NASDAQ 100), a história mostra que esses momentos são raros, tendo ocorrido apenas três vezes na história dos mercados financeiros.
O que isso significa para o futuro?
A retirada contínua de investidores estrangeiros não afetaria apenas o valor das ações dos EUA, mas também a capacidade do país de financiar sua dívida, estabilizar sua moeda e manter o dólar como a moeda de reserva mundial. Além disso, isso poderia acelerar os esforços de desdolarização em outras economias, iniciativas já em andamento na China e na Rússia.
Considerações finais: Este é o começo do fim da dominância financeira dos EUA?
A tendência “Sell America” pode não ser apenas um episódio temporário, mas um reflexo mais profundo da percepção de risco internacional em relação às políticas atuais dos EUA. Embora seja muito cedo para declarar uma crise estrutural, o fluxo de capital está enviando uma mensagem clara: a confiança é conquistada por meio da estabilidade e da visão de longo prazo, não por meio de decisões improvisadas.